Crônica publicada no jornal O POVO, de Fortaleza/CE, em 24/11/2010, por Pedro Salgueiro
Moacir nos deixou um legado de mais de 20 livros, dentre eles o famoso A Ostra e o Vento.
Engano, apenas força de expressão. Na verdade apenas (apenas?) faleceu um dos maiores escritores que este sovina Estado produziu. Não morrerá quem deixou uma obra tão grande (em quantidade e qualidade) como Moacir Costa Lopes, que nasceu em Quixadá em 1927, teve uma infância penosa e aventuresca, uma juventude sofrida e viveu grande parte de sua vida no Rio de Janeiro.
Tive o prazer de encontrar com ele em duas ocasiões, no ruge-ruge de uma bienal de livros aqui em Fortaleza, mas antes já havia trocado com ele alguns e-mails referentes a uma entrevista que concederia pra a nossa revista Para Mamíferos. Desde o início se mostrou uma figura maravilhosa, solícita, humilde e disponível. Me foi apresentado pela amiga Susana Frutuoso, que estuda a obra dele.
Não sabíamos que ele já se encontrava doente. Quando convidado para a bienal pelo amigo Raymundo Netto, nada exigiu, apenas sugeriu que com ele viesse um acompanhante, o editor e amigo Andrey do Amaral.
Proferiu palestra sobre seu fazer literário, sempre com muita simpatia e disposição. Depois participou, como ouvinte, de uma mesa que lançaria a revista com sua bela entrevista. Conversou com todos, distribuiu autógrafos e sorrisos. Prometeu entrar em contato quando viesse fazer uma visita ao seu querido Quixadá.
Do escritor, todos o sabíamos grande, mas o que mais me impressionou nele foi sua simplicidade, seu jeito manso e humilde de conversar com todos. O que mais me deixou feliz em conhecê-lo foi saber que pode, sim, um grande artista ser ao mesmo tempo um grande homem. Mesmo que muitos tentem, com suas tristes vidas, demonstrar que não.
Nos deixou um legado de mais de 20 livros, dentre eles o famoso A Ostra e o Vento (filmado por Walter Lima Jr.), o meu predileto O Passageiro da Nau Catarineta, seus contos reunidos em O Navio Morto e outras tentações do mar, e um delicioso Guia Prático de Criação Literária, que guardo de lembrança com seu autógrafo carinhoso.
Cabe a nós, conterrâneos que ele tanto amava, lembrarmos sempre de suas obras e de seu jeito manso.
Obrigado, mestre, pelos seus belos frutos!
PEDRO SALGUEIRO escreve contos e crônicas. Publicou O Peso do Morto, O Espantalho, Brincar com Armas, Dos Valores do Inimigo, Inimigos e Fortaleza Voadora. Organiza uma coletânea de contos fantásticos cearenses e edita, em parceria, as revistas Para Mamíferos e Caos Portátil: um almanaque de contos.
pedrosalgueiro64@yahoo.com.br
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